Viver à espera de quinta-feira
Joana Petiz
Fecha-se Lisboa para conter a variante Delta, mas não se controla as fronteiras (nem coisa nenhuma, na verdade) e ela espalha-se pelo país em 15 dias. Impede-se o regresso ao escritório, mas permite-se ir almoçar e jantar fora, comprar em lojas e andar nos transportes públicos colado a desconhecidos. Determina-se o confinamento obrigatório, mas o presidente da Assembleia da República diz e repete que todos devem ir a Sevilha apoiar a Seleção de Futebol. Decreta-se o desconfinamento, mas recua-se com base numa matriz de risco que sobrevaloriza contágios e ignora vacinação, casos graves e mortes - e que até o bastonário dos médicos diz que já não vale. Reabre-se a economia a conta-gotas porque o risco de ficar no buraco é enorme, mas mantém-se áreas inteiras de atividade congeladas e a morrer. Ouve-se especialistas diariamente, mas ignora-se os que defendem que o pior já lá vai e é urgente voltar à vida; até o Presidente Marcelo deixou de ter voz desde que começou a defender que os tempos mudaram e as prioridades também. Diz-se que a vacina permitirá voltar à normalidade, mas o primeiro-ministro fica isolado meses depois de tomar as duas doses. Obriga-se a apresentar credenciais para entrar em espetáculos e também no restaurante e no hotel, mas só ao sábado e ao domingo - nas lojas, centros comerciais, cafés e pastelarias não é preciso. Nunca. E ainda nesta semana ouvimos Graça Freitas anunciar que o isolamento de Costa foi bem contestado por Marcelo, que há condições para o público voltar aos estádios - o que o governo se apressou a dizer que ainda não decidiu - e que poderemos retomar a vida em setembro, apesar de as ordens para as escolas serem de um arranque de ano letivo a manter todas as restrições do que termina.