04:00 - 04/07/2021
Ministra Cármen Lúcia assina o primeiro artigo da seção 'Qual é a música?'
A inspiração inicial veio das Sagradas Escrituras. Era a Sexta-feira Santa e Gil recordou-se das palavras pronunciadas por Jesus durante a agonia no Getsêmani: “Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice” (Mt 26:39). Logo depois, associou o cálice (símbolo da Paixão) ao vinho (símbolo do sangue de Cristo) e, assim, a primeira estrofe estava pronta: “Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue”.
No dia seguinte, foi mostrar esses versos para Chico que, imediatamente, reparou na homofonia entre o substantivo “cálice” e o verbo “cale-se”. A partir daí, surgia um novo horizonte de significados. Na oração de Jesus ecoava o lamento de quem pedia ao Pai/Pátria o fim da opressão e dos inúmeros “cale-se” da censura. “Cálice” é, com efeito, uma música sobre a escuta que pretende dar voz ao indizível e doloroso silêncio das vítimas.